Segurança hídrica nas águas
do meio urbano
O Brasil deu um salto quando há
17 anos estabeleceu a Lei das Águas. Apesar de que, desde 1997 contarmos com
uma legislação avançada para a realidade do Brasil, a intenção do legislador
não acompanhou este avanço. Especialmente, ao nos deparamos com a realidade do
fornecimento de água para o abastecimento humano nas grandes cidades, a
escassez e a perda gradual da qualidade das nossas águas urbanas são visíveis e
preocupantes.
Um dos indicadores deste problema
pode ter sido a ausência da responsabilização dos gestores municipais na citada
Lei das Águas. Isso porque é nas cidades que os conflitos pelo uso da água
tornam-se mais intensos e onde nos deparamos com as ações antrópicas mais
severas no comprometimento da qualidade das águas, em especial, devido ao uso e
ocupação do solo no entorno das bacias de forma mais desordenada e agressiva.
Por esta razão, os municípios deveriam ter mais atribuições com respeito a água
e definindo políticas públicas de uso, de gestão, de ocupação do solo, enfim,
um olhar municipalista também sobre as águas.
A água não respeita fronteiras ou delimitações administrativas humanas neste ou
naquele município, estado, ou mesmo país. E por entendermos isto, no momento da
criação da lei das águas, acreditávamos que o município não poderia por si
assumir responsabilidades sobre as águas. Este foi um dos erros da nossa
política das águas. Os municípios somente participam e, quando participam, como
integrantes do sistema de gerenciamento de recursos hídricos, as denominadas
instâncias descentralizadas (Conselho Nacional, Conselhos Estaduais e Comitês
de Bacias Hidrográficas).
Enquanto as águas são de domínio
da união e Estados, os municípios são responsáveis pelo uso e ocupação do solo,
atividades esta que impactam significativamente as águas, razão mais do que
suficiente para repensarmos o papel deste ente da república na gestão das
águas.
No cenário mundial, segundo dados
da ONU mais de 50% da população vive nas cidades e, a cada segundo a população
urbana tem um incremento de mais 2 pessoas. No Brasil já estamos com 85% da
população em centros urbanos, destas 50% estão em centros acima de 250.000
habitantes. No Paraná, por exemplo, já são 90% da população vivendo nos centros
urbanos. Neste cenário a demanda por água tratada é crescente e exponencial,
obrigando os serviços de abastecimento de água a buscarem cada vez mais longe
mananciais para fazsr frente a este consumo.
Este cenário fica ainda mais
claro quando 47% dos municípios brasileiros necessitam de ampliar o sistema de
fonte de água, manancial de abastecimento ou mesmo a busca por novos mananciais
(9%). Os municípios que usam somente mananciais de água superficiais
representam 47%. (ANA/2013).
Quanto mais água fornecermos para a população, maior será o impacto direto na
produção do esgoto. Assim, se considerarmos que no Brasil, em 2010, possuíamos
61% de coleta de esgoto, e somente 29% desta fração são tratados, temos um
impacto 7siginificativo na qualidade das nossas águas.
Ao abordarmos o crescimento
urbano não estamos falando apenas da demanda crescente de abastecimento de água
potável ou do investimento necessário na coleta e no tratamento de esgoto.
Devemos lemnrar, de todo o impacto indireto com a crescente demanda de energia,
a necessária captação de água para diluição de efluentes, resfriamento de
caldeiras, e outros usos industriais, o incremento de demanda por alimentos e
com isso a pressão para aumento das áreas irrigáveis, a dessedentação das
criações, entre outros usos diretos e indiretos. Isso se constitui a denominada
água virtual, tão importante quanto a água consumida diretamente. Adotando esse
conceito, percebemos que a maior demanda de água está associada as cidades e ao
seu crescimento.
A compreensão do que são águas
urbanas é um primeiro desafio, pela sua abrangência e sua complexidade. Um
conjunto de águas circula pelo meio urbano, tanto na que precipita das chuvas,
como as que correm na superfície nos córregos e rios e as unidades aquíferas
que estão no subsolo, resultado do ciclo ecológico.
Uma cidade só poderá ser
sustentável se cuidar das suas águas, matriz que indica a saúde de uma cidade.
Na prática todas as atividades humanas em um centro urbano são refletidas na
qualidade das águas.
No Brasil, assim como no mundo, a
demanda do homem pela água pode ser dividida da seguinte forma: para abastecimento
público 9%; industrial 7%; animal 11%; rural 1% e irrigação 72% (ANA/2013). Já
o Estado do Paraná tem uma característica diferente: abastecimento público 44%;
demanda industrial 24%; agricultura 20%; e pecuária 12%. A energia que usa
muita água no Brasil, é classificada como uso não consuntivo.
No conceito sobre o que ocorre com as águas urbanas é que precisamos ter a
atenção redobrada. A água da chuva, precipita, escoa, infiltra e evapora. Este
simplificado ciclo hidrológico é adverso do que a natureza nos proporciona,
pois com a impermeabilização excessiva do solo na área urbana, tanto a
infiltração fica prejudicada como o seu escoamento e evapotranspiração. A
literatura demonstra que no meio urbano ocorre uma profunda alteração deste
ciclo, em até 40% na sua totalidade (CarlosTucci/2003) (evapotranspiração,
escorrimento superficial e infiltração).
Esta citada alteração do ciclo
hidrológico aliado ao conjunto de impactos urbanos como a poluição difusa, os
usos diretos, a disposição de resíduos sólidos, a contaminação por efluentes e
pelo esgotamento sanitário comprometem a qualidade e por consequência a
disponibilidade das águas. Associar todo este complexo resultado de alterações
antrópicas, com a crescente demanda, e as vulnerabilidades que as mudanças
climáticas estão introduzindo e a ausência de políticas municipais para o
assunto e colocar tudo isso em uma única visão, promovendo o seu gerenciamento,
não é tarefa simples.
Para promover a gestão integrada
das águas urbanas é necessária uma postura pró-ativa, de modo a promover sua
melhor governança. As instituições, normas e politicas públicas são segmentadas
nos dias de hoje, em especial quando se trata do uso e ocupação do solo, do
saneamento, dos resíduos sólidos, dos recursos hídricos e dos seus múltiplos
usos, do meio ambiente, entre outras. Entretanto para fazermos frente à atual
crise e ao desafio que se impõe ao futuro muito próximo, precisamos integrar
todas as políticas ambientais, de desenvolvimenot urbano, de saneamento, de
geração de emprego, etc.
Somente uma visão sistêmica e que
consiga dar a gestão das águas a sua necessária dimensão holística será capaz
de enfrentar a caótica previsão da escassez de água prevista pela FAO e por
tantos outros entes. A visão de conjunto somente é possível se o conceito de
gerenciamento de bacias hidrográficas for introduzido. No meio urbano,
geralmente se perde o conceito de bacia hidrográfica, pela descaraterização das
mesmas em função da urbanização e canalização dos rios, afastando as pessoas da
convivência saudável com as águas, sendo o rio uma realidade longe da vida
urbana.
Este distanciamento do homem da cidade dos rios, das águas naturais, cria uma
relação dissociada entre o uso da água e sua origem, não gerando
comprometimento do cidadão com um uso racional e responsável da água. Assim a
água só tem importância quando ela realmente falta, mesmo a possível escassez
futura não é impactante o suficiente para a sensibilização do homem urbano.
O exercício da gestão integrada
com foco na água requer uma visão consistente que transcende a implementação de
boas políticas, que devem ser complementares, coordenadas e articuladas. Num
quadro neste artigo um exemplo de crescente evolução em busca da visão
integrada de política e atividades com foco na água.
Os Sistemas de Gerenciamento de
Recursos Hídricos previsto nas leis das águas, nacional e estaduais, possui um
mecanismo essencial para promover a gestão integrada, inclusive das águas
urbanas, que são os comitês de bacias hidrográficas. Os Comitês – instâncias de
Estado e colegiados que caracterizam o princípio da gestão descentralizada e
participativa das águas uma vez que conta com a participação direta do poder
público, dos usuários das águas e da sociedade civil.

Diagrama:
Gestão integrada das águas urbanas
Os Comitês de Bacias
Hidrográficas em regiões metropolitanas e que compreendem os grandes centros
urbanos são essenciais para o sucesso da gestão integrada das águas, pois
contam com uma das ferramentas essenciais: os planos de bacias hidrográficas.
No plano de bacia é possível inserir diretrizes, programas e projetos que
consolidem as demais política associadas a água no meio urbano, para o uso
racional e conservação de mananciais de abastecimento público. Os Comitês podem
e devem exercer o papel de catalisadores e coordenadores de todas as políticas
nos planos de bacias e ainda consolidar a coordenação articulada dos municípios
para que eles exerçam uma gestão consorciada com seus vizinhos pertencentes a
mesma bacia hidrográfica.
Atualmente, se discute a segurança hídrica, e temos que ter os olhos bem
abertos para inserir o meio urbano em sua totalidade e suas demandas para
discutir este tema. O desafio da água no meio urbano é ainda mais necessária a
visão sistêmica e integrada, não sendo aceitável tratar a segurança hídrica de
forma segmentada, sob pena de errarmos e não enfrentarmos o verdadeiro desafio.

Diagrama
segurança hídrica (adaptado de UN-Water 2013 – Mauri)
O conceito de segurança hídrica é
o novo desafio das organizações nacionais e internacionais a qual se tornou
mais importante a uma década. Durante o 20 Fórum Mundial da Água de 2000, na
Declaração Ministerial foi inserida a preocupação da segurança hídrica. Assim
foi explicada a segurança hídrica: “significa garantir que ecossistemas de água
doce, costeira e outros relacionados sejam protegidos e melhorados; que o
desenvolvimento sustentável e a estabilidade política sejam promovidos; que
cada pessoa tenha acesso à água potável suficiente a um custo acessível para
levar uma vida saudável e produtiva, e que a população vulnerável seja
protegida contra os riscos relacionados à água”.
Portanto podemos afirmar que tratar da segurança hídrica é tratar da
sobrevivência do homem na Terra, portanto deve se tornar o foco principal dos
gestores, e também de todos os cidadãos. A bacia do Alto Iguaçu, no Paraná, é
um exemplo da necessidade de uma abordagem holística. Uma bacia que compreende
a região metropolitana de Curitiba sofre com os impactos históricos da oupação
humana e do uso não palnejado de suas águas e da ocupação territorial.

Mas, recentemente o governo do Estado sensibilizado pela necessidade de
políticas para as águas trouxe uma esperança. Começa com o plano de bacia
iniciado em 2011 e aprovado em 2013. Continua com a implementação da cobrança
pelo uso da água. Um excelente caminho, sobretudo para criar horizontes de
restauração da qualidade das águas. Mas, o cenário ainda é intrigante, pois
para melhorar a qualidade de suas águas são necessários investimentos da ordem
de 3 bilhões de reais considerando o crescimento populacional nos próximos 30
anos.
As vulnerabilidades são enormes,
as tendências de incidentes e acidentes crescem progressivamente a medida que
as mudanças climáticas avançam. A bacia hidrográfica do Iguaçu compreende a
área de mais de 120 municípios com uma população de 4,5 milhões de pessoas, das
quais 3 milhões (30% da população paranaense) na Região Metropolitana de
Curitiba (RMC) que estão nas cabeceiras do Iguaçu. Essa mesma região tem um
índice estressante e critico de disponibilidade de água por habitante ano,
501/m3/hab/ano, ainda mais grave se considerar a qualidade das águas do Rio
Iguaçu que torna parte das águas do rio indisponível.
Nestas últimas décadas surgiram iniciativas, na tentativa de reverter o quadro
de degradação das águas, particularmente com a implementação da política de
recursos hídricos e na de saneamento e de resíduos sólidos. Mais recentemente a
de implementar o pagamento de serviços ambientais para proteger as águas nos
mananciais de abastecimento público.
Trabalhando na busca da solução e
no enfrentamento deste problema conseguimos este ano que o Conselho Estadual de
Recursos Hídricos aprovasse recursos financeiros do Fundo Estadual de Recursos
Hídricos para o pagamento de serviços ambientais (PSA) uma das estratégias que
consideramos essencial para a conservação de mananciais de abastecimento
público. Na mesma esteira, e de forma pioneira, o CERH garantiu recursos para a
elaboração do Plano Estadual de Segurança Hídrica, ou seja, o Paraná caminha
para um planejamento e um conjunto de ações para garantir a água para todos os
seus fins, humanos e não humanos.
Com o propósito de tanto discutir estas
problemáticas, verificar as soluções existentes, o Paraná sediará um evento no
mês de dezembro de 2014 de importância para as águas nas cidades. Um primeiro
evento de uma série de reuniões que necessitam ser compartilhadas com a
sociedade, a Segurança Hídrica nas Cidades que denominamos, água urbanas.
Daniela de Paula Paes, nº7 1ºMA
ResponderExcluirA exatos dezessete anos o Brasil conta com uma legislação feita especialmente para as águas, porém por alguns motivos essas águas está cada vez se tornando escassa e sem qualidade. Pode-se dizer que a culpa destes eventos vem de uma atividade antrópica que não é vistoriada pelos gestores municipais.
Como a água não respeita fronteiras de municípios, estados e até mesmo países as bacias hidrográficas não são vistoriadas e gerenciadas normalmente a não ser em eventos extracurriculares, pode-se afirmar que este foi um dos erros da legislação correspondente as águas.
Enquanto a legislação de águas não é feita corretamente cada vez mais aumenta o número de pessoas em centros urbanos e cada vez mais o consumo aumenta, ou seja, os serviços de abastecimentos estão indo buscar água em mananciais cada vez mais longe.
Ao falarmos de consumo urbano de água devemos nos lembrar também que este consumo gera impactos em diversas áreas, desde energia a saneamento básico e vendo por este parâmetro temos noção do gasto de água e a importância de economizá-la.
. Além disso o ciclo da chuva acaba sendo afetado por atividades antrópicas, ou seja, causadas pelo homem como a interferência da absorção da água ao solo por conta de calçadas sem escoamento de água ou pelo desmatamento da Amazônia que é um dos fatores da crise hídrica de São Paulo atual.
O primeiro passo para termos uma água limpa e em abundância é justamente economizar, conscientizar, prevenir, não poluir e cobrar das autoridades e gestores municipais as leis das águas sendo colocadas em prática.