Incertezas climáticas
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A capacidade de assegurar a
necessária disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos
setores da economia – agricultura, produção de energia, navegação, turismo e
muitos outros -, é condição sine qua non para o desenvolvimento econômico e social
de qualquer país, já que a água é insumo elementar para toda atividade.
Assegurar a disponibilidade de água para as pessoas, porém, configura-se como
prioridade nobre e legal, já que a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei
9.433/97) estabelece que o consumo humano e a dessedentação de animais são
prioritários em situações de escassez.
E isso é exatamente o que estamos
vivendo. Estamos vivendo uma situação de anomalia de chuvas, que afeta
diretamente a disponibilidade hídrica em determinadas regiões, culminando em
vazões raramente observadas nas séries históricas. Não tem chovido e importante
parcela da população tem sofrido com restrições ou convivido com o fantasma da
falta d’água a qualquer momento. Com a confirmação, pelos institutos meteorológicos,
de que este ano deve ocorrer o fenômeno El Niño, mesmo de forma abrandada, o
Nordeste poderá conviver com terceiro ano de chuvas abaixo da média e não há
garantias de que o Sudeste escape de mais um período de chuvas insuficientes a
partir de outubro, o que coloca o Sistema Cantareira, que abastece nove milhões
de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, sob risco de não ter
capacidade de atender às demandas.
O aumento do consumo de bens e
serviços, relacionado ao crescimento da economia e dos níveis de renda da
população, são sempre bem vindos mas impõem desafios ao desenvolvimento
sustentável do Brasil. O País apresenta vantagens comparativas que favorecem a
produção de bens intensivos no uso de recursos hídricos, como commodities
agrícolas e minerais. Estima-se que apenas os setores econômicos ligados a
produção de bens industriais e agropecuários são responsáveis por 71% da
retirada de água dos corpos hídricos no Brasil. Para dar conta da demanda de
energia elétrica novamente o País é favorecido por seus ativos ambientais,
possibilitando que aproximadamente 70% da energia elétrica produzida tenha
origem hidroelétrica, energia de menor custo, e com importante potencial de
expansão no Brasil.
É por isso, e pelos problemas de
escassez que temos vivido, que devemos investir em resiliência e redundância em
matéria de recursos hídricos. A resiliência entendida como a capacidade das
populações e dos ecossistemas absorverem, com o menor impacto possível, os
períodos de escassez e a redundância entendida como a provisão de intervenções
de infraestrutura e gestão que diminuam os riscos de não atendimento das
necessidades por água. Resumindo, temos que investir em segurança hídrica.
Sem dúvida essa é uma questão
relevante, ainda mais em um ambiente de crescente incerteza quanto à
disponibilidade futura de água. Este ano, por exemplo, a Califórnia (EUA) entra
no terceiro ciclo de secas, tendo sido impactada com uma precipitação de apenas
20% da média. As incertezas quanto ao clima, mas também as crescentes demandas,
o desperdício, a degradação dos mananciais, tudo contribui como argumento para
a necessidade de melhoria da segurança hídrica no Brasil.
Como exemplo de melhoria da resiliência e de redundância, precisamos criar
infraestruturas capazes de, nos períodos de chuva, armazenar as grandes ondas
de cheias para minimizar os seus impactos e, nos períodos de seca, melhorar a
garantia de oferta de água para atravessar períodos como os que estamos
atravessando hoje.
No entanto, quando se fala em
reservatórios no Brasil pensa-se, primeiramente, em energia elétrica e surge a
preocupação, legítima, com os impactos ambientais que podem ser causados com a
construção desses reservatórios, impactos esses que devem ser mitigados. Mas a
geração hidrelétrica é apenas um dos usos que devem ser beneficiados com a
construção de reservatórios. No semiárido a maioria dos açudes é destinada ao
suprimento de água para as populações. O Castanhão, no Ceará, por exemplo, que
é bastante grande, armazenando algo como seis bilhões de metros cúbicos de
água, é voltado exclusivamente para o abastecimento. O sistema Cantareira,
construído nos anos 70, que abastece a Região Metropolitana de São Paulo e
cidades do interior paulista, na bacia do rio Piracicaba, também tem essa
finalidade. Por isso defendemos a melhoria da segurança hídrica, por meio da
melhoria dos patamares de gestão dos recursos hídricos e, também, por meio da
retomada da construção de reservatórios de usos múltiplos.
A partir dos anos 80, grupos de
pressão investiram contra as grandes barragens, o que levou a um processo de
“judicialização” e “ideologização” dos licenciamentos ambientais. Quem conta
bem essa história é o professor Dr. Francisco Gomide, em seu estudo sobre
reservatórios e segurança hidrica. Engenheiro civil e economista pela
Universidade Federal do Paraná, foi ministro de Energia e presidente da Itaipu
Binacional, da Companhia Paranaense de Energia (Copel), das Centrais Elétricas
do Espírito Santo (Escelsa), entre outras, além de presidente da Associação
Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH). Ele, que conhece muito bem o assunto,
denuncia o processo de “criminalização” das barragens nos últimos 30 anos. Aqui
no Brasil, o setor elétrico é o responsável pela maior parte do armazenamento
de água. A título de exemplo, segundo seu estudo, há cerca de 2.590 m³ de água
armazenada para cada americano e 3.790 m³ para cada brasileiro. No entanto, se
retirarmos os reservatórios do setor elétrico no Brasil o indicador cai para
327 m³ por habitante. Os reservatórios artificiais americanos armazenam 165
dias de deflúvio médio anual (precipitação menos evaporação), enquanto os
brasileiros armazenam apenas 47 dias. Desconsiderando o setor elétrico, o
indicador brasileiro despenca para cinco dias!
É importante falar de outras infraestruturas
ligadas à garantia de água, como as adutoras por exemplo. O Brasil tem uma rede
razoável de adutoras, principalmente no Semiárido, mas essas adutoras podem ser
ampliadas tanto no espaço territorial quanto na sua capacidade de suprimento de
água. Existe o projeto de integração do Rio São Francisco (PISF), com os seus
dois eixos que integram essa bacia às bacias do Nordeste setentrional (eixos
leste e norte). Há o Cinturão das Águas do Ceará, também em construção, o Eixão
das Águas, já concluído, que garante a segurança e o abastecimento da região
metropolitana de Fortaleza, com os seus quatro milhões de habitantes. Outro
exemplo importante é o canal do sertão alagoano, o Canal do Xingó, em Alagoas,
o eixo sul, na Bahia, obras que a partir do Rio São Francisco estão
contribuindo com a segurança hídrica para os diversos usos. Nosso foco
principal, como dito, é o abastecimento humano, mas também a segurança hídrica
deve estar associada ao uso industrial, agropecuário, de geração hidrelétrica,
navegação e aos diversos setores usuários da água.
Por tudo isso, do nosso ponto de
vista, devemos avançar em uma política de segurança hídrica, retomando a
construção de reservatórios que estejam voltados aos usos múltiplos, ampliando
nossa malha de adutoras. Não há dúvida de que a construção dessa infraestrutura
deve considerar todas as questões ambientais e sociais envolvidas, o que aponta
para a necessidade de um amplo acordo nacional sobre as obras necessárias.
Além de diversas outras
iniciativas em curso, uma delas é a recém anunciada elaboração do Plano
Nacional de Segurança Hídrica (PNSH), no dia 20 de agosto, pela Agência
Nacional de Águas (ANA) e Ministério da Integração Nacional (MI), que objetiva
definir as principais intervenções estruturantes do País, como barragens,
sistemas adutores, canais e eixos de integração, o que certamente contribuirá
para o alcance de níveis de atendimento cada vez melhores das necessidades de
água da população e dos setores da economia. Da necessidade de água das
pessoas.
Considerando os debates públicos e políticos em curso sobre as mudanças climáticas, o objetivo deste documento é resumir as atuais evidências científicas e suas causas.Considera-se que a ciência está bem estabelecida onde há amplo consenso, mas o debate contínua, onde contínua existir uma incerteza substancial
ResponderExcluirWAGNER D. MARTINS N 34 TURMA 1MA