A edição 2013 do Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos
está disponível no site da Agência Nacional de Águas (ANA). A publicação traz
o retrato atualizado das condições, usos e gestão das águas nas bacias
hidrográficas brasileiras, além de apresentar os avanços na gestão dos recursos
hídricos no País. Por atribuição estabelecida na Resolução nº 58/2006 do Conselho
Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), a cada quatro anos a ANA elabora o
Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos, com a publicação anual de
informes que atualizam o seu conteúdo.
O Relatório é o resultado do trabalho feito com uma rede de cerca de 50
instituições, por isso, disponibiliza a informação mais atual possível de forma
que o ano de referência dos dados não é sempre o mesmo. Entre a rede de
instituições que participam da elaboração do Relatório de Conjuntura dos
Recursos Hídricos, estão os órgãos gestores estaduais de meio ambiente e
recursos hídricos, além de órgãos federais, como a Secretaria Nacional de
Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU) do Ministério do Meio Ambiente (MMA)
e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Destaques
sobre a situação dos recursos hídricos:
Chuvas: a
precipitação média anual (histórico de 1961-2007) no Brasil é de 1.761 mm,
variando de 500 mm no semiárido do Nordeste a mais de 3.000 mm na Amazônia. O
exame dos mapas de chuvas e dos dados (1961 a 2007) revela que em 2009 a chuva
média no País excedeu em mais de 15% o valor médio histórico, em cinco regiões
hidrográficas. Outras quatro regiões hidrográficas também registraram valores
acentuados, entre 10 e 15%. Em compensação, em 2012 a chuva média no País foi
de 1.651 mm, abaixo da média histórica e cinco regiões hidrográficas tiveram
médias bem abaixo da média histórica (pag. 41);
Água
doce superficial: apesar de o Brasil possuir 13% da água doce disponível do planeta,
a distribuição é desigual, pois cerca de 80% estão concentrados na Região
Hidrográfica Amazônica, onde está o menor contingente populacional, pouco mais
de 5% da população brasileira, e a menor demanda, enquanto na Região
Hidrográfica do Atlântico Leste, onde se localizam quase 8% da população e as
capitais Aracaju e Salvador, por exemplo, estão menos de 0,4% das águas dos
rios (pag. 45);
Água
doce subterrânea: A reserva subterrânea potencial explorável no Brasil
(disponibilidade hídrica subterrânea) é de 11.430 m³/s. As águas subterrâneas
abastecem 39% dos municípios brasileiros (pág. 58/63);
Reservatórios: os
reservatórios desempenham papel importante na gestão dos recursos hídricos.
Além de armazenar água nos períodos de chuva, contribuindo para o controle de
cheias em alguns casos, eles podem liberar parte do volume armazenado em épocas
de seca, aumentando a oferta de água. O Brasil possui 3.607 m³ por habitante de
volume máximo disponível para armazenamento de água. Esta estimativa é superior
a vários continentes, só perdendo para o volume armazenado pela América do
Norte, de 5.660 m³ por habitante. Os 254 principais reservatórios do
Nordeste (com capacidade igual ou superior a 10 hm³) sofreram um decréscimo de
20,31% no volume de armazenamento em 2012, por causa dos baixos índices de
chuvas. (pág. 49, 52);
Demandas: a demanda de
água corresponde à vazão de retirada, ou seja, à água captada para atender os
diversos usos consuntivos (fora do rio). Parte dessa água é devolvida ao
ambiente depois do uso (vazão de retorno). A água não devolvida (vazão de
consumo) é a diferença entre a vazão de retirada e a vazão de retorno.
Verificou-se que em 2010, em comparação com 2006, houve aumento de cerca de 29%
da vazão de retirada total de águas dos rios, passando de 1.842 m³/s para
2.373m³/s, principalmente devido à irrigação, que passou de 866m³/s para 1.270
m³/s (47% do total). Já a vazão de consumo passou de 986 m³/s para 1.161
m³/s, aumento de 18%. Portanto, em 2010 a irrigação foi responsável por 72% da
vazão consumida; o uso dos animais por 11%; o uso urbano por 9%, o industrial
por 7% e o rural (o consumo das pessoas e a não a atividade agrícola) por 1% do
total consumido (pág. 89);
Irrigação: segundo a
FAO, o Brasil está entre os quatro países com maior área potencial para
irrigação. A área irrigada projetada para 2012 foi de 5,8 milhões de hectares
ou 19,6% do potencial nacional de 29,6 milhões de hectares. Considerando a
relação área irrigada e total cultivadas, as regiões hidrográficas Atlântico
Sul e Atlântico Sudeste apresentam o mais elevado percentual de irrigação, com
19,4% e 24,02% em 2012. As regiões São Francisco e Atlântico Nordeste Oriental
também se destacam com irrigação em 17,8% e 14% da área total cultivada em
2012, enquanto a região Amazônica apresenta o menor percentual, de 1,6%. Embora
possua a maior área irrigada, a região do Paraná apresenta apenas 7,5% de sua
área cultivada sobre irrigação, abaixo da média nacional de 8,6% (pág. 94);
Indústria: é o terceiro
maior uso do País em termos de vazão de retirada dos rios e o quarto em
consumo. Em algumas bacias corresponde ao principal uso da água (na Bacia do
Tietê, por exemplo, respondendo por 45% da vazão de retirada da bacia). Este
uso é mais concentrado nas Regiões Hidrográficas do Paraná, Atlântico Sudeste e
nas cabeceiras do São Francisco, onde de se concentra a maior parte da mão de
obra e a infraestrutura para o escoamento da produção (portos, malha viária,
aeroportos) e mercado consumidor. Essas regiões concentram 80% das outorgas
(licenças) emitidas para uso industrial. A fabricação de celulose, papel e
produtos de papel, metalurgia básica são os usos indústria com maior número de
outorgas nos rios da União (pág. 117);
Hidroeletricidade: Segundo a
Aneel, o País possui 1.061 empreendimentos hidrelétricos, sendo 407 centrais de
geração hidrelétrica (CGH), 452 pequenas centrais hidrelétricas (PCH) e 205
usinas hidrelétricas (UHE). A hidroeletricidade representa 70% de toda a
capacidade instalada. Entre 2009 e 2012, 28 importantes aproveitamentos
hidrelétricos (UHE) entraram em operação gerando um total de 4.787,21 (MW), dos
quais 1.463,03 MW foram gerados em 2012, quando houve um acréscimo de 3.972 MW
na capacidade total do sistema, sendo 1.843 referentes à geração hidrelétrica
(Pág.121);
Qualidade das águas: considerando os valores
médios de IQA (Índice de Qualidade da Água) nos 2001 pontos de coleta (em 17
estados) no ano de 2011, observou-se condição ótima em 6% dos pontos de
monitoramento, boa em 76%, regular em 11%, ruim em 6% e péssima em 1%. Águas
com condições ótima, boa e regular são próprias para o abastecimento público
após tratamento convencional. Águas ruins ou péssimas são impróprias para o
abastecimento público e necessitam de tratamentos mais avançados e estão
localizadas em corpos hídricos que atravessam áreas urbanas densamente
povoadas. Quando considerados apenas os 148 pontos de monitoramento dessas
áreas, o percentual de pontos péssimos sobe para 12% e de ruins, para 32%. Entre
as bacias que apresentaram mais número de pontos com melhorias (entre 2001 e
2011) estão as bacias do Tietê (34% dos pontos) e do Paraíba do Sul (24%), em
ambos os casos a razão da melhora são investimentos em coleta e tratamento de
esgoto (pag. 70);
Saneamento: Segundo
informações do Censo Demográfico do IBGE de 2010, o Brasil possui 90,88% e
61,76% da população urbana atendida por rede geral de água (existência de rede,
não necessariamente de água) e por rede coletora de esgoto, respectivamente.
Comparados com as informações de 2000, houve manutenção da cobertura de rede de
abastecimento de água e aumento de cerca de 8% da cobertura de rede de esgoto.
Houve aumento de 20% para quase 30% no percentual de esgoto tratado com relação
ao coletado, na comparação entre 2000 e 2008, mas ainda há acentuadas
diferenças entre as regiões, com índices de tratamento de 78,4% em São Paulo e
de 1,4% no Maranhão, por exemplo. As regiões hidrográficas Tocantins-Araguaia,
Amazônica, Atlântico Nordeste Ocidental e Parnaíba possuem os piores índices de
abastecimento urbano de água e coleta e tratamento de esgotos. As regiões
hidrográficas do Paraná, Atlântico Sudeste, São Francisco e Atlântico Leste
possuem os melhores índices com relação a coleta de esgotos. Estima-se que são
lançadas cerca de 5,5 mil toneladas de carga orgânica por dia nos corpos d’água
brasileiros. As situações mais críticas são as das regiões metropolitanas,
devido ao alto lançamento e reduzido potencial de diluição da vazão dos rios.
Houve melhora devido a investimentos, que não resultaram suficientes (pág.101);
Balanço
Hídrico: A Lei nº 9.433/1997, no seu artigo 3º, define a gestão sistemática
dos recursos hídricos sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade
como uma das diretrizes para implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos. Nesse sentido, realizou-se o diagnóstico das bacias críticas
brasileiras, considerando, de forma integrada, a análise de criticidade sob o
ponto de vista qualitativo e quantitativo. Como destaque, essa análise
integrada revela que:
• Boa parte do País encontra-se em condição satisfatória quanto à quantidade e
à qualidade de
água. Destacam-se as RHs Amazônica, Tocantins-Araguaia e Paraguai;
• Na Região Nordeste ocorre grande ocorrência de rios classificados com
criticidade quantitativa
devido à baixa disponibilidade hídrica dos corpos d’água;
• Rios localizados em regiões metropolitanas apresentam criticidade
quali-quantitativa, tendo em
vista a alta demanda de água existente e a grande quantidade de carga orgânica
lançada aos rios;
• No Sul do Brasil muitos rios possuem criticidade quantitativa, devido à
grande demanda para
irrigação (arroz inundado).
Destaques
do quadro institucional e legal
Comitês
de Bacia: Em 2012, havia 174 comitês de bacia hidrográficas (CBH) instalados
no Brasil, sendo 164 em bacias de rios de domínio estadual e nove em bacias de
rios de domínio da União, correspondendo a uma área total de 2,17 milhões de
km² que cobre mais de 25 % do território brasileiro. Em Goiás, em 2012 foi
instalado o CBH Rio Vermelho; no Rio de Janeiro, o CBH Baía da Ilha Grande; e
em Tocantins foram instalados os seguintes CBHs: rio Manuel Alves da
Natividade, rio Formoso do Araguaia e entorno do Lago de Palmas. Quanto
aos Comitês Interestaduais, em 2012 houve a instalação do CBH do Rio Grande e a
criação e instalação CBH do Rio Paranapanema (pág. 230);
Cobrança
pelo uso da água: Em 2012, foram cobrados R$ 153,8 milhões e arrecadados R$ 144,9
milhões. Desde o início da cobrança pelo uso das águas nas bacias
hidrográficas, em 2003, foram cobrados R$ 628,4 milhões e arrecadados R$ 562,9
milhões. A cobrança foi implementada nas seguintes bacias hidrográficas
federais: Paraíba do Sul, rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), São
Francisco e rio Doce. Os Comitês das bacias hidrográficas do rio Verde Grande e
Paranaíba começaram a tratar das diretrizes da cobrança no âmbito de seus
planos de recursos hídricos. Nas bacias hidrográficas de domínio dos estados,
há cobrança em todas as bacias do Rio de Janeiro; no Ceará; nas bacias do
Sorocaba, Médio Tietê e Baixada Santista; e nas porções paulistas do Paraíba do
Sul e do PCJ. Em Minas Gerais, nos rios das Velhas, Araguari, Piranga, Santo
Antônio, Suaçai, Caratinga, Munhuaçu e nas porções mineiras do PCJ em todos os
afluentes do rio Doce. A Bahia cobra pelo fornecimento de água bruta dos
reservatórios administrados, operados e mantidos pela Companhia de Engenharia
Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia (CERB) (pág. 240);
Planos
de Recursos Hídricos: Dos 27 estados, nove ainda não contam com Planos de Recursos
Hídricos (Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Rondônia, Espírito Santo, Rio de
Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Com relação aos planos de bacia
de rios interestaduais, já foram concluídos planos que atingem 51% do
território brasileiro. Em 2012 foram iniciados os trabalhos para o plano da
Bacia do rio Piranhas-Açu (pág. 277);
Usuários
Cadastrados: Até o final de 2012, 130.524 declarações de usos de 65.049
usuários constavam do Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos
(CNARH), sendo 12% cadastrados em rios de domínio da União e 88% em rios de
domínio dos estados (pág.313);
Outorgas
e Certificações: Até julho de 2012, o total de outorgas (autorização para uso)
acumulado foi de 204.607 nas bacias hidrográficas de domínio da União e dos
estados. Em termos de vazão outorgadas, as licenças equivalem a 7.439,14 m³/s,
sendo que as outorgas de águas superficiais superam as de águas subterrâneas em
12 vezes em termos de vazão e em 20 vezes em termos de outorgas. São
destaques as outorgas coletivas, de 2012, que regularizaram 62 usuários da
bacia do rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo, para várias
finalidades. Também foram regularizados 191 usuários do rio Mampituba, no Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, para irrigação de arroz, estabelecendo
eficiência mínima de 85% no uso das águas. Em 2012, a Agência Nacional de
Águas analisou pedido de Declaração de Reserva de
Disponibilidade Hídrica (DRDH) ou alteração de outorga para 19
empreendimentos hidrelétricos, mas emitiu apenas uma DRDH para a Hidrelétrica
de Iraí, no rio Uruguai, e uma outorga para a Usina Hidrelétrica de Colíder, no
rio Teles Pires. Em 2012, a ANA emitiu Certificado de Sustentabilidade
de Obra Hídrica (Certoh)para sete empreendimentos de infraestrutura
hídrica implantados ou financiados pela União, que equivalem a investimentos
que ultrapassam a R$ 3 bilhões (pág. 319).
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